quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Sobre editores e poetas — Alice Corbin Henderson



SOBRE EDITORES E POETAS*

Todos os jovens poetas odeiam editores. E eles estão certos. Quando um poeta é tolerante com um editor —  ou um editor com um poeta —  isso não é um sinal saudável, pois significa que ambos deixaram de estar atentos.

Um jovem poeta cheio de ira é o melhor amigo do editor. Ele pode ser arrogante, insolente, mas é capaz de ser honesto. Quando o editor sugere cortes ou mudanças em seu poema, o poeta se enraivece e fala ao editor o que pensa sobre ele. Isso induz no editor um espírito conveniente de humildade (e não estou falando dos editores que insultam de modo tão suave e impermeável como um estofado de sofá!). Isso também alivia o poeta que, quando se acalma um pouco, começa a se perguntar se seu poema não pode ser aprimorado com uma sugestão do editor ou com uma nova ideia que ele próprio teve. Ambos, portanto, continuam com esse fundamento puramente humano de dar e receber, sendo, de modo saudável, antagônicos e sociáveis.

Mas entre o poeta estabelecido, cuja reputação está mais do que consagrada — embalsamada —, e o editor que não tem mais plasticidade do que um poste de amarrar cavalos não há qualquer atrito. Eles são mutuamente tolerantes um com o outro. Por que? A relação entre eles é simplesmente a de um produtor com um varejista de qualquer mercadoria razoavelmente básica, como açúcar, melaço, ou queijo verde.

Claro que é preciso ter habilidade para ser poeta! Mas e para ser ser um editor? Basta um par de tesouras, um lápis azul e um frasco de cola! Todo o poeta em mim odeia o editor. O editor em mim jura que sou uma poeta muito ruim; o poeta sabe que o editor é um tolo. E nenhum deles está completamente errado!




Alice Corbin Henderson foi uma escritora, poeta e editora estadunidense.

Nascida no ano de 1881, em St. Louis, no estado do Missouri, mudou-se para Chicago com três anos de idade, após a morte de sua mãe. Anos depois, seu pai casou-se novamente, e ela fora viver com ele no Kansas.

Foi editora-assistente de Harriet Monroe, na renomada revista Poetry, entre 1912 e 1922. Junto desta, editou duas edições da antologia The New Poetry, em 1923 e 1932.

Em 1916, diagnosticada com tuberculose, Alice mudou-se com seu marido, o pintor William Penhallow Henderson, para o Novo México, em busca de tratamento. Durante esse período acabou interessando-se pela cultura dos povos originários americanos, tornando-se ativista dos seus direitos civis — sendo co-fundadora do museu House of Navajo Religion, atual Wheelwright Museum of the American Indian, e publicando os livros Red Earth - Poems of New Mexico (Terra vermelha - poemas do Novo México**), em 1920, e The Turquoise Trail - an Anthology of New Mexico Poetry (A trilha turquesa - uma antologia da poesia do Novo México), em 1928.

Alice escrevia poemas tanto em verso livre, quanto em formas fixas. Publicou, além do já mencionado Red Earth..., os seguintes livros de poesia: The Linnet Songs (As canções do pintarroxo), em 1898, The Spinning Woman of the Sky (A mulher rodante do céu), em 1912, e The Sun Turns West (O sol vai para o Oeste), em 1933.
Alice Corbin Henderson faleceu em 1949, vítima de uma insuficiência cardíaca.

* — Texto traduzido por Victor H. Azevedo.
** — Para o próximo ano, a Munganga Edições pretende lançar o Terra vermelha - poemas do Novo México.